terça-feira, 31 de agosto de 2010

SETEMBRO

os ventos empurram
setembro contra agosto
ambos desabam
no abismo do tempo
por um momento
pensei ter me visto
entre a pele
dos dois
sendo mais leve
quase sem mágoa
eu me infinito por dentro
quando deságua
em mim o tempo

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

BIFURCAÇÃO

sigo o sol
até que me esqueça
tudo se bifurca
igual quando se ama
se a flores soubessem
o quanto são magras
seriam mais calmas
o céu onde me ponho
perdi ao chegar
quem me vê aos pedaços
sabe que sou sonhos

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

LEITURA LABIAL

fiz a leitura labial de deus
li que o mundo morreu
e desse corpo inerte
não somos nem os vermes
depois percebi a ilusão
o lábio de deus era o lábio de um cão
por tamanha maledicência
deus me condenou à existência

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

INFÂNCIA

meu pai tinha um negócio
de mostrar as coisas
mostrava intenso
minha mãe por dentro
criança nunca sabe
que vai morrer
mesmo morrendo

terça-feira, 10 de agosto de 2010

ALIMENTO

amor é alimento
coma devagar
divague o sumo
coma com prumo
mastigue sem morder
morda sem arder
salive calmo
alimente o rumo
faça tudo pra não engolir
tudo pra não fugir
pelo canto da boca
pelo pranto
faça tudo pra não cuspir
amor é alimento
que se fala
com a boca cheia
e quando falar
fale alto
espalhe o hálito
espalhe o lugar
onde fica o pomar

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

PEDAÇO

doeu não
mas arrancou pedaço
e do pedaço que arrancou
não saiu sangue
se saísse sangue ou doesse
seria mais fácil
um torniquete um analgésico
tudo estaria resolvido

doeu não
mas arrancou pedaço
e o pedaço que saiu
não se encontra fácil
só se recupera com o tempo
e o tempo não entende de pedaços

MANCHA

está ouvindo esse barulho?
é o de uma alma se desmanchando
ela se desfaz em poema
deixa essa mancha na página

sábado, 7 de agosto de 2010

SER AMADO

eu tinha
todas as flores do mundo
agora nem me pertenço

tudo o que sinto
cabe num canto
é preciso um coral
de espaços

quando penso
espanto o mundo
quando falo
me convenço
desse espanto

espero que o amor
me desvende
quando eu chegar

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

CULPA

se eu pudesse
trocar a minha pele
e embrulhasse na alma
por engano

por enquanto
é o que me cabe
só tenho a vida
como entrave

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

MORTE ÍNTIMA

quase não morro
deixo a vida passar
me comovo
pouco desespero
pertenço aos cacos
pelo avesso
amordaço o mundo
e o silêncio que escorre
me expele
não me contenho
sobro em tudo
que desfaço
do infinito sou o espaço
do refletido o aço
da agonia a espera

EM BRANCO

o punho cerrado
que esperava o meu rosto
para o soco
transformei em tronco
onde brotei meus galhos
minhas flores meus frutos
agora não tenho escolha
aos socos futuros
e às palavras
ofereço minhas folhas

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AOS TOLOS

sinto muito
não sinto nada
de vez em quando
escrevo poemas
para despistar os tolos
poesia se escreve
com o pensamento
e o pensamento do tolo
direciona para o sentimento
sinto muito
acabou o estoque
de palavras
acredite
não acredite em nada
do que eu disse
não acredito
que você acredite
no que eu sinto
sinto muito

DEPOIS QUE MORREM

  sei para onde vão as mães depois que morrem a saudade forma um túnel e a luz que vem em sentido contrário as transformam em cinz...