terça-feira, 5 de agosto de 2014

NÃO TENHO AMIGOS INFLUENTES NO MEIO LITERÁRIO

minha poesia não atende
a quem procura sentimentalismos
minha poesia não sobra
nem sopra apenas morde
minha poesia nem é minha
talvez de alguém que me faça pensar que sou eu
minha poesia não tem raiz
mas se sustenta dentro de algo
parecido com uma floresta
minha poesia faz concessões
às palavras
minha poesia se abre
quando tudo está fechado
e se fecha quando procuram por ela
minha poesia quer ser simples
mas não vai conseguir
minha poesia cabe numa página
até ser retirada
minha poesia agrada aos gregos
por não ser entendida
e agrada aos meus amigos
por serem hipócritas
minha poesia pode ser utilizada
como anteparo como biombo
como forma de manifestação pública
e como uma maneira de me ver de outra maneira
minha poesia tem pressa
por isso é curta
porém é longa se precisar ser breve
se precisar de neve ela inverna
se precisar de sol nem se atreve
minha poesia tem chuva
tem muita água
mas não é potável
minha poesia tem gosto
mas não é palatável
não vai ser escrita num banheiro público
nem vai ser estampada nas galerias
minha poesia tem fala
tem falo tem cu e tem cabaço
minha poesia é de alto nível
mas nunca se abaixa
minha poesia é curva
embora seja quadrada
minha poesia não tem amigos nem inimigos
não faz falta a ninguém
porém é previsível e desigual
todos sabem como vai terminar
e não vai ser agora nem nunca
minha poesia tinha cabelos
tinha um tinteiro derramando o dia inteiro
agora não tem mais
minha poesia seca arranha a página
sem fazer barulho
minha poesia me agrada
por isso vivo no escuro
de onde não quero sair de lá
nunca mais


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